Sertão Hoje

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Vitor Hugo Lima da Silva

Vitor Hugo Lima da Silva é médico, clínico geral, formado em 2001 pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente, reside em Ituaçu, onde trabalha como médico concursado no Programa Saúde da Família (PSF) e também em uma clínica particular (Fisioclem), de sua propriedade.

O comportamento de manada nas redes sociais

Na rede social as cobranças por comportamentos são com base em uma média geral, a qual é criada de modo não consciente pelos usuários, mas com cada um contribuindo para puxar essa média não para seu próprio comportamento, mas para um comportamento tal que acreditam ser o padrão para se comportar, ainda que não esteja totalmente claro para a maioria das pessoas, não na vida virtual, mas na vida real.

Na vida real sabemos, por exemplo, que não podemos julgar definitivamente uma pessoa de 20 anos por um trejeito, um palavreado, um comportamento às vezes até engraçado ou infeliz, do mesmo modo que julgaríamos uma pessoa de 50 anos que tivesse o mesmo trejeito, palavreado ou comportamento. Na rede social este comportamento já é pré-estabelecido e está pairando por lá no subconsciente dos seus usuários, de forma rasa e simplória. Ele é engessado, rígido, frio. O que não for de acordo com o esperado lá, causa estranhamento. E desse estranhamento até haver julgamento e intolerância é só questão de tempo!

Por que isto ocorre? Simplesmente porque os comportamentos esperados por todos na rede social são paradoxalmente os comportamentos esperados na vida real. E até este comportamento esperado da vida real é um comportamento até certo ponto utópico e todos sabemos que utopia é algo inatingível por nós mesmos, que dizer pelo esperado em outros! Assim sendo, dada esta conturbada coisa paradoxal entre o real e o imaginario coletivo, associada à animosidade e à intolerância, a humanidade está cada dia se aproximando mais de um abismo. Este abismo será, na mente coletiva dos usuários dessas redes, algo bom e até esperado. Será estranho a eles se alguém não seguir a manada para cair com eles lá no fundo, pois quem não assim o fizer não estará usufruindo de um delicioso voo abismo abaixo, conforme os alardes dos próprios ecos reverberados por lá. Só esquecem de uma coisa: por mais profundo que seja, por mais adrenalina (ou será serotonina?!) e delicioso que seja o prazer de voar abismo abaixo, com seus companheiros de manada, todo abismo tem um fundo e ao chegar lá a realidade chegará para todos os participantes destas redes. Resta saber quando esta realidade chegará também para a humanidade como um todo, reverberada das redes sociais, sentenciando-a de forma definitiva com lastimosa sentença de morte da capacidade cognitiva e social.